Acompanhando a apuração das notas
do desfile das escolas de samba de SP, acabei me deparando com uma cena inacreditável.
Faltavam duas notas para o término quando um cidadão, digo, um marginal driblou
a frágil segurança, pulou a mesa de contagem, tomou os documentos, os rasgou e
saiu lépido e fagueiro diante de policiais e demais participantes do evento. Daí em diante se estabeleceu um caos, com a invasão de outros
vândalos que atiraram documentos, mesas e cadeiras para o alto. Baderneiros
travestidos de torcedores de escolas/clubes de SP transformaram o local em
verdadeira praça de guerra. Não satisfeitos, ao serem obrigados a sair,
passaram a depredar o que viram pelo caminho, numa das principais vias da capital
paulista. Chegaram ao extremo de incendiar um carro alegórico num depósito do
sambódromo de SP, colocando em risco outras alegorias e todo o patrimônio
público e privado em seu entorno. Fiquei estarrecido com as imagens dantescas às quais assisti ao vivo com as incômodas sensações de impotência e de desespero pelo desfecho. Discordo
terminantemente desse tipo de hostilidade, em qualquer circunstância, sob qualquer
argumento. Essa turba de desordeiros, antes contaminando o futebol e
agora alastrada pelo samba paulista, há décadas permanece quase impune. Quando há coerção, os
irresponsáveis escapam com ligeiros arranhões e retornam às atividades. Dessa forma garantem
o estímulo a outros tantos desocupados, presentes a estádios e situações em geral sempre
com o intuito maior do vandalismo e da agressão gratuita. Não há a mínima defesa para
esse comportamento lamentável e anti-social. Apenas me questiono por que não
vemos reação nem de longe parecida contra as deploráveis atitudes de políticos corruptos
que desviam do povo a verba da saúde, da educação e da moradia. Essas gangues que
se prestam a confrontos sangrentos entre eles, com mortes marcadas pela
internet, são os mesmos a reagir com violência e destemperança contra um mero
resultado de desfile no carnaval. Poderiam usar esse ímpeto na organização
ordeira pelos destinos da sociedade, pela moral e pela ética de quem legisla,
na contestação contra as indecentes propinas recebidas pelos mais importantes mandatários
espalhados pelo país. É evidente que não podemos esperar da turba tal
conscientização, mas incomoda o fato de que a canalização da revolta não se foque nos verdadeiros responsáveis pelo estado de coisas vivido há
tempos pela população. Talvez um dia esses destemperados compreendam que se ganha
e se perde em competições esportivas ou carnavalescas, bastando haver apenas dois
concorrentes. Contudo, nas restrições impostas pela desigualdade social,
perdemos todos o tempo todo. É contra esse mal que, sem barbárie, precisamos
concentrar nossa energia e nossa insatisfação. Para coibir a atitude insana do
tresloucado que deu início ao tumulto de dimensões imprevisíveis só resta uma
punição exemplar e duríssima. Já identificado e preso, aguardamos por justiça. Caso
contrário se estimulará outros idiotas a repetirem o que ele fez. A impunidade nos presta esse desserviço.
Belo texto ! Temos que deixar a nossa voz falar sobre essa impunidade frequente. Ninguem tolera mais isso..
ResponderExcluirOs dois principais selvagens estão presos. A confusão revela não apenas a fragilidade da segurança coordenada pela Prefeitura, mas da própria estrutura do evento e, também, dos pilares que sustentam uma sociedade que Rousseau, Locke e Hobbs não previram. Sobre o desfile, talvez, no ano que vem, a Gaviões decida homenagear Sarney e no ano seguinte, Marco Aurélio Mello, representando a nossa Justiça. Abraços,
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