Mais duas pérolas sucessivas da administração pública. Em 25/08/11, um subsecretário do Governo do Estado do RJ, que até março de 2011 atuava como Coordenador da Operação Lei Seca, atropelou quatro pessoas em Niterói, quando dirigia seu veículo. O próprio responsável pelo acidente reconheceu ter consumido bebida alcoólica numa festa de onde saíra minutos antes do fato. Uma das quatro vítimas faleceu. O subsecretário foi exonerado após alguns dias do ocorrido, coincidentemente na mesma data em que a vítima era sepultada. Seria o extremo da incompatibilidade o ex-Coordenador da Operação Lei Seca beber, dirigir, atropelar e matar? Seria inimaginável? Nem tanto. Os fatos provam que a fatalidade, de novo ela, apenas fez emergir do lodaçal evidências mantidas submersas. Então, quantas se encontram mergulhadas, desde quando e até quando?
A título de confirmação, em 27/08/11, um acidente com um bondinho em Santa Tereza vitimou 62 pessoas, das quais cinco perderam a vida, até o momento. Há pouco tempo houve um registro de morte no mesmo meio de transporte, depois da queda de um passageiro. Dessa vez o bonde trafegava aparentemente com problemas de manutenção e superlotação. Somente agora o Governo do Estado anuncia a interrupção do transporte até que se estabeleça um plano de modernização do sistema. Por que essa providência não foi adotada antes da tragédia anunciada? Precisamos de óbitos para lastrear atitudes inadiáveis diante dos riscos existentes? Em resumo, os cidadãos morrem pelas mãos de outros cidadãos semelhantes a eles, oportunamente disfarçados ou disfarçadamente oportunistas.
Dois casos emblemáticos da realidade da gestão pública no país, se juntando a inúmeros outros, mais e menos escabrosos. Falta de ética e/ou de iniciativa, interesses pessoais, imobilismo, todos viram simples estatísticas para a rotina estarrecedora que anestesia a nossa repulsa. O primeiro evento chega a ser surrealista pela recente função de seu protagonista, inobstante ainda ocupar um cargo público, de quem se espera um procedimento exemplar. Num mundo hipotético, claro, no qual as autoridades sirvam como referência. No lamentável cotidiano com o qual convivemos a situação se mostra muito diferente.
Um exercício desinteressado pelo noticiário do dia a dia nos traz o mais variado cardápio de máquina pública defeituosa. Deparamo-nos com vícios decorrentes da famosa disposição de seus agentes em levar a maior vantagem possível, driblando a lei sem o menor resquício de ética ou o mais remoto sentimento de culpa. Não bastassem salários bem acima da média do mercado em geral, os ocupantes desses cargos se julgam merecedores de usufruir de benesses supostamente inerentes ao exercício de suas atividades. No mínimo se consideram passíveis de imunidade sob diversos aspectos. O referido subsecretário, por exemplo, justificou a evasão do local do acidente alegando estar em estado de choque. Mas, conforme divulgado pela mídia, a tal instabilidade não o impediu de requisitar um reboque da Operação Lei Seca, desfazendo a cena do acidente e levando o seu carro particular para outro local. O que os leva a pensar assim?
Cabe então uma reflexão maior. Quem seriam esses cidadãos, se não elementos pinçados na própria sociedade que os critica? Feliz ou infelizmente, cada instrumento desses descalabros nossos de cada dia se origina de pessoas que hoje podem estar ao lado de um de nós. Ou seja, são semeados nos diversos níveis de uma sociedade que muitas vezes aspira alcançar o Olimpo da impunidade, invejando aqueles que hoje se valem do poder. Basta que sejam nomeados para uma função dessas e já recomeça o círculo vicioso. Daí se dizer que o poder corrompe, pois os exemplos, tristemente, se estendem do mais significativo degrau da gestão estatal até o mais modesto. Raciocínio simplista traduzirmos isso sob a conotação de questão cultural. Porém, não devemos aceitar tal absurdo com naturalidade a vida inteira. Como corrigir essa falha de comportamento?
terça-feira, 30 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
A história se repete
“Não há nada nas ruas, parece diferente para mim, as propagandas estão repletas. A parte da esquerda é agora parte da direita, as barbas tornaram-se grandes de repente.”
As palavras ditas fora de contexto ainda assim fazem enorme sentido. Impregnadas de uma atualidade permanente, não me canso de ouvi-las há quarenta anos, quando ecoaram no mundo pela primeira vez. Os currais se abrem e se fecham de acordo com os interesses de quem toca a boiada, os comandantes de nomes mutantes na grafia e de espírito semelhante como a repetição dos dias de quem segue a fila mugindo. Uns mais outros menos vamos cumprindo a nossa missão de perpetuar a espécie, caminhando inexoravelmente para o matadouro. Renovamos recursos e equipamentos, modernizamos processos, descobrimos curas, prolongamos e encurtamos etapas. Pena que para poucos, pois tudo se destina a melhor observar ou integrar a caravana dos privilegiados tuaregues passantes pelo deserto de mudanças sociais.
A queda das bolsas e o desequilíbrio da economia mundial nos abalam. Vemos revoltas em Londres e nos preocupamos com a escassez do emprego numa das capitais mais ricas do mundo. Entretanto, há indigentes em Centro do Guilherme/MA, Jordão/AC, Pauini/AM e Guaribas/PI no outro extremo do Brasil. Mas também os encontramos mais perto, basta que andemos com o carro alguns quilômetros, nem precisa ir muito longe. As imagens do flagelo na África nos chocam tanto que preferimos não vê-las. A realidade dos guetos de Ruanda, Zâmbia, Benin e Etiópia não nos atinge de frente. Embora estejamos ao lado, separados apenas por um oceano, os mares revoltos da indiferença e do conforto nos distanciam muito mais do sofrimento num dito mundo globalizado. Um clique no mouse nos afasta ou nos aproxima da realidade, trata-se de mera opção.
Estou a duas semanas de tatuar em torno de 28 milhões de batidas nesse coração guerreiro. Elas foram mais aceleradas quando meus olhos testemunharam cenas de grande emoção, tocantes pela amargura da injustiça ou pela expectativa de mudanças profundas na realidade cruel que ainda vemos por esse mundo insensível. As gerações se sucedem e o quadro hediondo se mantém intocável na galeria das eras. As teias da inoperância e da imobilidade, retiradas de quando em vez pelo incômodo criado, são tecidas pelas aranhas de todos os tempos, com as fibras resistentes da estagnação.
Segundo Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Na vida não é bem assim. Na prática dos costumes quase nada se transforma. A humanidade que sobrevive aos solavancos das intempéries sociais se prostitui a cada segundo, negociando com a consciência as decisões mais difíceis de tomar. É um triste reconhecimento, refrescado a cada esmola que nos rejubila nos momentos de solidariedade dos sinais de trânsito. O gesto que nos redime é o que nos anestesia. Aplaca o desejo de nos sentirmos úteis e partícipes de algo muito maior do que um átimo de segundo numa parada do trânsito caótico, intervalo resumido de nossas vidas. Nosso carma permanece, a despeito da nobreza da intenção de atender à solicitação, empresariada ou não por alguém a poucos metros da cena.
Os versos de Pete Townshend são eternos, nada mudará a consistência e a acidez verdadeira de sua reflexão. Quem quiser resgatá-los na memória, mesmo naquele hermético e dissimulado compartimento das constatações agrilhoadas, poderá revê-los no link http://www.youtube.com/watch?v=Rp6-wG5LLqE Nele relembramos a capa do antológico álbum “Who’s Next”, de agosto de 1971. Quarenta anos antes deles, no frescor de seus tenros dezoito anos, Jorge Amado escreveu “País do Carnaval” em 1931, obra de contundente crítica ao status quo. Esse e outros livros dele foram queimados em praça pública por ordem do Estado Novo em 1937. Victor Hugo publicou “Os miseráveis” em 1862 e por aí vai. Interpretamos um moto contínuo, um ir e vir de sentimentos. Somos ondas de humanismo. O tsunami está por vir. Se somos semelhantes, parafraseando o título e a capa do disco, quem será o próximo?
As palavras ditas fora de contexto ainda assim fazem enorme sentido. Impregnadas de uma atualidade permanente, não me canso de ouvi-las há quarenta anos, quando ecoaram no mundo pela primeira vez. Os currais se abrem e se fecham de acordo com os interesses de quem toca a boiada, os comandantes de nomes mutantes na grafia e de espírito semelhante como a repetição dos dias de quem segue a fila mugindo. Uns mais outros menos vamos cumprindo a nossa missão de perpetuar a espécie, caminhando inexoravelmente para o matadouro. Renovamos recursos e equipamentos, modernizamos processos, descobrimos curas, prolongamos e encurtamos etapas. Pena que para poucos, pois tudo se destina a melhor observar ou integrar a caravana dos privilegiados tuaregues passantes pelo deserto de mudanças sociais.
A queda das bolsas e o desequilíbrio da economia mundial nos abalam. Vemos revoltas em Londres e nos preocupamos com a escassez do emprego numa das capitais mais ricas do mundo. Entretanto, há indigentes em Centro do Guilherme/MA, Jordão/AC, Pauini/AM e Guaribas/PI no outro extremo do Brasil. Mas também os encontramos mais perto, basta que andemos com o carro alguns quilômetros, nem precisa ir muito longe. As imagens do flagelo na África nos chocam tanto que preferimos não vê-las. A realidade dos guetos de Ruanda, Zâmbia, Benin e Etiópia não nos atinge de frente. Embora estejamos ao lado, separados apenas por um oceano, os mares revoltos da indiferença e do conforto nos distanciam muito mais do sofrimento num dito mundo globalizado. Um clique no mouse nos afasta ou nos aproxima da realidade, trata-se de mera opção.
Estou a duas semanas de tatuar em torno de 28 milhões de batidas nesse coração guerreiro. Elas foram mais aceleradas quando meus olhos testemunharam cenas de grande emoção, tocantes pela amargura da injustiça ou pela expectativa de mudanças profundas na realidade cruel que ainda vemos por esse mundo insensível. As gerações se sucedem e o quadro hediondo se mantém intocável na galeria das eras. As teias da inoperância e da imobilidade, retiradas de quando em vez pelo incômodo criado, são tecidas pelas aranhas de todos os tempos, com as fibras resistentes da estagnação.
Segundo Lavoisier, na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma. Na vida não é bem assim. Na prática dos costumes quase nada se transforma. A humanidade que sobrevive aos solavancos das intempéries sociais se prostitui a cada segundo, negociando com a consciência as decisões mais difíceis de tomar. É um triste reconhecimento, refrescado a cada esmola que nos rejubila nos momentos de solidariedade dos sinais de trânsito. O gesto que nos redime é o que nos anestesia. Aplaca o desejo de nos sentirmos úteis e partícipes de algo muito maior do que um átimo de segundo numa parada do trânsito caótico, intervalo resumido de nossas vidas. Nosso carma permanece, a despeito da nobreza da intenção de atender à solicitação, empresariada ou não por alguém a poucos metros da cena.
Os versos de Pete Townshend são eternos, nada mudará a consistência e a acidez verdadeira de sua reflexão. Quem quiser resgatá-los na memória, mesmo naquele hermético e dissimulado compartimento das constatações agrilhoadas, poderá revê-los no link http://www.youtube.com/watch?v=Rp6-wG5LLqE Nele relembramos a capa do antológico álbum “Who’s Next”, de agosto de 1971. Quarenta anos antes deles, no frescor de seus tenros dezoito anos, Jorge Amado escreveu “País do Carnaval” em 1931, obra de contundente crítica ao status quo. Esse e outros livros dele foram queimados em praça pública por ordem do Estado Novo em 1937. Victor Hugo publicou “Os miseráveis” em 1862 e por aí vai. Interpretamos um moto contínuo, um ir e vir de sentimentos. Somos ondas de humanismo. O tsunami está por vir. Se somos semelhantes, parafraseando o título e a capa do disco, quem será o próximo?
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
A modernidade da escrita
Enquanto as atribulações me afastavam desse espaço, aproveitei para refletir. Antes nosso desafio era uma folha em branco, hoje é uma tela em branco. No lugar do lápis, da caneta ou da velha Remington, artefato que os mais jovens nem podem imaginar do que se trata, vemos atualmente cada vez menores e melhores equipamentos. Outro dia vi uma caneta inteligente, que após desempenhar sua função comum pode transferir os escritos para o computador. Antigamente, a fuga era quando muito para um ghost writer. O estrangeirismo do termo criou asas, se travestiu de glossário e o que dependia apenas dos neurônios do dublê de autor já se apresenta armazenado em terabytes de memória, em breve superada por um nome ainda mais esquisito. A evolução da tecnologia nos trouxe as teclas, evoluímos na arte de deletar, copiar, recortar e colar. Superadas as barreiras naturais de quem se julga antigo, tudo efetivamente está mais simples, mais prático, mais favorável.
Até a ortografia e a gramática, fantasmas de muita gente boa, agora socorrem seus discípulos qual um Domingos Pascoal Cegalla particular se escondendo numa aba do Windows. Em outras abas provavelmente se esgueiram o Olympio Horta de Araújo, a Marília Barbosa e outros que me desvendaram os mistérios das letras unidas em palavras, frases e parágrafos. Cada clique parece abrir a porta de uma sala onde esses monstros sagrados do idioma pátrio permanecem à disposição para dirimir qualquer dúvida. Formulada a idéia, desenvolvido o tema, nem se exige do escriba um profundo conhecimento da norma culta. Basta um programa que corrija os erros e a tarefa se descomplica.
A prospecção pode utilizar a melhor das plataformas, a mais especial ferramenta de sondagem e perfuração, inutilmente, se não há o que extrair. O alento de quem cria é a certeza de que, em qualquer ambiente, a essência não perderá o lugar para a cibernética. Mudaram os tempos, as formas, os padrões, até mesmo a profusão de informações. As letras viraram caracteres. Entretanto, só a inspiração, esse mero e precioso detalhe, se mantém imprescindível. Seja com os velhos instrumentos básicos, seja com os mais sofisticados tablets ou qualquer outra engenhoca que ainda esteja por vir, os textos precisam de alguém que os produza.
Não há algoritmos ou programas que substituam a colheita dos pensamentos no inconsciente coletivo, a perfeita concatenação das ideias, a escolha precisa de cada palavra, a concepção da oração. Quem os fará, quem os adequará em algo digno de ser lido? Dificilmente ouviremos elogios à fonte escolhida para digitar. Em contrapartida, não raro será admirada a fonte de inspiração, a riqueza da narrativa, a profundidade do alcance, a prevalência do bom gosto. A sede mais incontrolável busca a fonte para se saciar de saber. Sorve goles generosos com a sofreguidão dos aprendizes.
Acima das nuvens tecnológicas e dos paraísos dos microchips há uma ativa incubadeira e seu inesgotável manancial de quimeras indomáveis. Suas ninhadas nascem prenhes de lirismo, inoculadas de romantismo puro, contaminando os olhos de quem percorre suas linhas com a avidez dos cúmplices. Está estabelecida a relação consentida, a conspiração do vocabulário, a geração do par binário escritor-leitor. Somos os mesmos, sem noção e por privação de sentidos. Não importa o veículo, pois a reafirmação do desejo está na repetição do prazer. É quando lembramos que à leitura dos papiros bastavam olhos e uma réstia de luminosidade para a plena satisfação. Tomara que jamais nos falte luz ou que a bateria esteja eternamente carregada.
Até a ortografia e a gramática, fantasmas de muita gente boa, agora socorrem seus discípulos qual um Domingos Pascoal Cegalla particular se escondendo numa aba do Windows. Em outras abas provavelmente se esgueiram o Olympio Horta de Araújo, a Marília Barbosa e outros que me desvendaram os mistérios das letras unidas em palavras, frases e parágrafos. Cada clique parece abrir a porta de uma sala onde esses monstros sagrados do idioma pátrio permanecem à disposição para dirimir qualquer dúvida. Formulada a idéia, desenvolvido o tema, nem se exige do escriba um profundo conhecimento da norma culta. Basta um programa que corrija os erros e a tarefa se descomplica.
A prospecção pode utilizar a melhor das plataformas, a mais especial ferramenta de sondagem e perfuração, inutilmente, se não há o que extrair. O alento de quem cria é a certeza de que, em qualquer ambiente, a essência não perderá o lugar para a cibernética. Mudaram os tempos, as formas, os padrões, até mesmo a profusão de informações. As letras viraram caracteres. Entretanto, só a inspiração, esse mero e precioso detalhe, se mantém imprescindível. Seja com os velhos instrumentos básicos, seja com os mais sofisticados tablets ou qualquer outra engenhoca que ainda esteja por vir, os textos precisam de alguém que os produza.
Não há algoritmos ou programas que substituam a colheita dos pensamentos no inconsciente coletivo, a perfeita concatenação das ideias, a escolha precisa de cada palavra, a concepção da oração. Quem os fará, quem os adequará em algo digno de ser lido? Dificilmente ouviremos elogios à fonte escolhida para digitar. Em contrapartida, não raro será admirada a fonte de inspiração, a riqueza da narrativa, a profundidade do alcance, a prevalência do bom gosto. A sede mais incontrolável busca a fonte para se saciar de saber. Sorve goles generosos com a sofreguidão dos aprendizes.
Acima das nuvens tecnológicas e dos paraísos dos microchips há uma ativa incubadeira e seu inesgotável manancial de quimeras indomáveis. Suas ninhadas nascem prenhes de lirismo, inoculadas de romantismo puro, contaminando os olhos de quem percorre suas linhas com a avidez dos cúmplices. Está estabelecida a relação consentida, a conspiração do vocabulário, a geração do par binário escritor-leitor. Somos os mesmos, sem noção e por privação de sentidos. Não importa o veículo, pois a reafirmação do desejo está na repetição do prazer. É quando lembramos que à leitura dos papiros bastavam olhos e uma réstia de luminosidade para a plena satisfação. Tomara que jamais nos falte luz ou que a bateria esteja eternamente carregada.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
Dia a dia
Recebi de um grande e indignado amigo a triste frase do dia: “Que país é este que reúne milhões para a marcha dos gays, outros milhões para a marcha dos evangélicos, algumas centenas para a marcha a favor da maconha, mas que não se mobiliza contra a corrupção?”, de suposta autoria de Juan Arias, correspondente do El País no Brasil. Ainda que me incomode um estrangeiro dizer isso, partindo do pressuposto que em terras hispânicas isso também ocorra, não posso reclamar de estar errado. Há pouco mais de um mês escrevi aqui o texto “Ninguém se indigna mais”, entendendo inadmissível convivermos de forma tão passiva com uma sucessão absurda de escândalos em todos os níveis.
A enxurrada de malversações assumiu tal proporção, que muitas vezes se esquece com rapidez de gente graúda arrolada em acusações pesadas. Para isso, basta o envolvido submergir e esperar que a enorme concorrência o substitua nas manchetes. Há pouco tempo um importante mandatário foi duramente golpeado. Hoje nem se fala mais no assunto, como se nada tivesse acontecido. Ele até continua viajando com a mesma intensidade e frequência, mas saiu das manchetes. Talvez porque esteja optando por vôos de carreira.
De maneira geral, a memória do brasileiro funciona coerentemente mal. Sua inconsistência tanto rejeita lembrar o que mereça ser exaltado, quanto se recusa a execrar com veemência atitudes indignas. Passagens terríveis de nossa história são apagadas com facilidade num piscar mais moroso de olhos. Seguimos nossa vocação de vacas de presépio com uma invejável impassividade, ruminando nossos problemas recorrentes e mugindo a vaia apenas quando o atacante do time perde um gol incrível. Somos a população que os corruptos pediram a Deus.
Relações espúrias, tráficos de influência, percentuais padronizados de propina. As situações parecem cada vez mais escabrosas, envolvendo desde verbas destinadas à Saúde aos recursos alocados para a reconstrução de áreas atingidas por tragédias, tudo é possível no caleidoscópio de falcatruas. Só se faz necessário um cifrão seguido por mais de seis dígitos e a roleta gira esperando a bolinha cair no número escolhido ou na cor certa. Façam seu jogo senhores, a sorte está lançada. Os apostadores se revezam nesse pano verde e amarelo, embora sejam os mesmos. Desfilam com seus ternos e vestidos de grifes caríssimas, não temendo ostentar uma riqueza incompatível com seus vencimentos oficiais. Relógios valiosíssimos, carros com IPVA estratosférico, casas de campo e de praia, barcos e quetais. Nada é investigado, tudo se supõe justificável, afinal ganham muito.
E dia após dia a caravana passa e os cães nem ladram. Ou melhor, nem latem, para não estimular duplo sentido. Termino resgatando um poema que escrevi na adolescência, somente para refrescar a memória falha, teimosa em não lembrar de um problema bem antigo.
Dia a dia
Quero esquecer esses problemas do dia a dia,
quero recordar o destino que sorria.
As doces fantasias que existiam nas canções,
agora já não passam de antigas ilusões.
A vida não respeita os projetos que se faz,
o mesmo tempo marca e apaga os sinais.
Acordo nesse mundo que me cerca de ferrões,
mal sabe que as abelhas morrem após os seus zangões.
O sol que nasce agora revigora com o calor,
à tarde vai embora e ignora a minha dor.
Justiça que parece impossível encontrar,
verdades que me fazem muito mais desanimar.
A força que sustenta o nó nessa garganta,
há de sucumbir ante a voz que se levanta.
Vida indevida me faça renascer,
um dia após o outro só ajuda a descrer.
A enxurrada de malversações assumiu tal proporção, que muitas vezes se esquece com rapidez de gente graúda arrolada em acusações pesadas. Para isso, basta o envolvido submergir e esperar que a enorme concorrência o substitua nas manchetes. Há pouco tempo um importante mandatário foi duramente golpeado. Hoje nem se fala mais no assunto, como se nada tivesse acontecido. Ele até continua viajando com a mesma intensidade e frequência, mas saiu das manchetes. Talvez porque esteja optando por vôos de carreira.
De maneira geral, a memória do brasileiro funciona coerentemente mal. Sua inconsistência tanto rejeita lembrar o que mereça ser exaltado, quanto se recusa a execrar com veemência atitudes indignas. Passagens terríveis de nossa história são apagadas com facilidade num piscar mais moroso de olhos. Seguimos nossa vocação de vacas de presépio com uma invejável impassividade, ruminando nossos problemas recorrentes e mugindo a vaia apenas quando o atacante do time perde um gol incrível. Somos a população que os corruptos pediram a Deus.
Relações espúrias, tráficos de influência, percentuais padronizados de propina. As situações parecem cada vez mais escabrosas, envolvendo desde verbas destinadas à Saúde aos recursos alocados para a reconstrução de áreas atingidas por tragédias, tudo é possível no caleidoscópio de falcatruas. Só se faz necessário um cifrão seguido por mais de seis dígitos e a roleta gira esperando a bolinha cair no número escolhido ou na cor certa. Façam seu jogo senhores, a sorte está lançada. Os apostadores se revezam nesse pano verde e amarelo, embora sejam os mesmos. Desfilam com seus ternos e vestidos de grifes caríssimas, não temendo ostentar uma riqueza incompatível com seus vencimentos oficiais. Relógios valiosíssimos, carros com IPVA estratosférico, casas de campo e de praia, barcos e quetais. Nada é investigado, tudo se supõe justificável, afinal ganham muito.
E dia após dia a caravana passa e os cães nem ladram. Ou melhor, nem latem, para não estimular duplo sentido. Termino resgatando um poema que escrevi na adolescência, somente para refrescar a memória falha, teimosa em não lembrar de um problema bem antigo.
Dia a dia
Quero esquecer esses problemas do dia a dia,
quero recordar o destino que sorria.
As doces fantasias que existiam nas canções,
agora já não passam de antigas ilusões.
A vida não respeita os projetos que se faz,
o mesmo tempo marca e apaga os sinais.
Acordo nesse mundo que me cerca de ferrões,
mal sabe que as abelhas morrem após os seus zangões.
O sol que nasce agora revigora com o calor,
à tarde vai embora e ignora a minha dor.
Justiça que parece impossível encontrar,
verdades que me fazem muito mais desanimar.
A força que sustenta o nó nessa garganta,
há de sucumbir ante a voz que se levanta.
Vida indevida me faça renascer,
um dia após o outro só ajuda a descrer.
sábado, 20 de agosto de 2011
Uma vida musical
Como explicar um gosto musical tão difuso, reunindo o melhor dos clássicos, canto gregoriano, rock & roll, samba em geral e MPB na mais pura das versões de cada uma delas? Jamais fui músico e não sei quando isso começou nem porque, razão tão antiga que talvez me remeta a um acorde captado em posição fetal. Mesmo não tendo memória auditiva dessa época, sou capaz de assegurar que isso ocorreu. Eu não poderia ser indiferente, gerado por mãe apaixonada pela música brasileira de Maysa, Dolores Duran, Cartola e outros gênios. Além da indisfarçável admiração que ela sempre expressou por algumas grandes vozes estrangeiras, rol onde me recordo encontrar Sarah Vaughan, Charles Aznavour e, especial e destacadamente, Johnny Mathis, seu maior ídolo junto com Roberto Carlos.
Tenho registro de ser um apreciador da boa música desde a mais tenra infância. Ainda bem menino, adorava acompanhar o meu pai em suas domingueiras festivas em frente ao aparelho de som, uma poderosa rádio-vitrola Telefunken embutida num belo móvel de madeira. Era praxe ver um Dario regente dominical, escolhendo entre sua enorme coleção de LPs, eclética seleção incluindo Henry Mancini, Frank Pourcel, Burt Bacarach, Frank Chacksfield, Nat King Cole, Frank Sinatra, Fifth Dimension, Harry Belafonte, Tijuana Brass, Sérgio Mendes, Wilson Simonal, Erlon Chaves, Beethoven, Mozart, Mendelsson, Vivaldi e todos os clássicos. O som que ecoava dependia do seu astral.
Eu conheci muito cedo o prazer de saborear as melodias balsâmicas e a ânsia de devorar a informação enriquecedora das letras. A música faz parte da minha vida de tal forma que me envolvi com ela em minha adolescência, imaginando poder seguir esse caminho profissionalmente. Ganhei três festivais amadores, com a parceria de um grande amigo músico, porém me afastei do rumo inexplicável e subitamente. É provável que tenha pesado para isso uma suposta injustiça na desclassificação da seletiva do festival Abertura da Globo, coordenado pelo Augusto César Vanucci. Nos meus sonhos de menino poeta, vendo “Alegria, Alegria”, “Domingo no parque”, “Luciana” e, emblematicamente, “Pra não dizer que não falei das flores”, participar de um festival de gente grande seria o máximo.
Não importa, segui degustando Toquinho e Vinícius, Jobim, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gil, Zé Ramalho e muitos outros. Mergulhei na sonoridade rebelde do rock, inspirado pela revolução dos Beatles e dos Rolling Stones; pela guitarra de Clapton, Gilmour, Hendrix, Page e Santana; pela bateria do Keith Moon e do Phil Collins; pela voz do David Coverdale e do Roger Daltrey; pelo baixo do John Entwistle e do John Paul Jones; pelos teclados do Rick Wakeman e do Tony Banks; pela flauta do Ian Anderson; pelas letras do Pete Townshend e do Roger Waters. E o trompete do Miles Davis, o sax do Charlie Parker, o magic touch do Stanley Jordan, a gaita do Toots Thielemans? Melhor parar, pois a citação reverencial é gêmea siamesa da omissão injustificada.
Nenhum deles me impediu de apreciar os maravilhosos sambas do Cartola e do Nelson Cavaquinho, nem os populares do Monarco, Almir Guineto e Zeca Pagodinho. Agisse diferente e não me perdoaria a minha professora de português do Santo Inácio, Marília Barbosa, incentivadora das minhas redações e hoje uma das maiores pesquisadoras do mundo do samba. Portanto, diria o mestre Cegalla, o popular não precisa ser inimigo da regra culta da língua. Acabei estimulado por outro grande amigo a compor sambas bissextos, apenas nos carnavais de blocos de rua. Neles me realizei escutando muita gente cantando meus versos nos blocos da “Barata”, em Costazul/Rio das Ostras, e no “Nem muda nem sai de cima” da Tijuca.
Vejam só como é lúdica a vida do amante da música. Busquei tanto pela sonoridade até no quebrar de copos e pratos, que virei notas numa quase sexagenária trilha sonora. Musicalidade a cada dia da minha caminhada, em ritmos heterogêneos, sem xenofobia nem pedantismo, embalando minha história numa longa dança. As vozes, os arranjos, os solos e os acordes guiaram meus passos à margem dos problemas, esses sim, sem rima, sem prosa, sem tom. Eles só costumam atravessar o samba dos tristes e desafinados, aqueles que não têm sintonia com a melodia de sua existência.
Tenho registro de ser um apreciador da boa música desde a mais tenra infância. Ainda bem menino, adorava acompanhar o meu pai em suas domingueiras festivas em frente ao aparelho de som, uma poderosa rádio-vitrola Telefunken embutida num belo móvel de madeira. Era praxe ver um Dario regente dominical, escolhendo entre sua enorme coleção de LPs, eclética seleção incluindo Henry Mancini, Frank Pourcel, Burt Bacarach, Frank Chacksfield, Nat King Cole, Frank Sinatra, Fifth Dimension, Harry Belafonte, Tijuana Brass, Sérgio Mendes, Wilson Simonal, Erlon Chaves, Beethoven, Mozart, Mendelsson, Vivaldi e todos os clássicos. O som que ecoava dependia do seu astral.
Eu conheci muito cedo o prazer de saborear as melodias balsâmicas e a ânsia de devorar a informação enriquecedora das letras. A música faz parte da minha vida de tal forma que me envolvi com ela em minha adolescência, imaginando poder seguir esse caminho profissionalmente. Ganhei três festivais amadores, com a parceria de um grande amigo músico, porém me afastei do rumo inexplicável e subitamente. É provável que tenha pesado para isso uma suposta injustiça na desclassificação da seletiva do festival Abertura da Globo, coordenado pelo Augusto César Vanucci. Nos meus sonhos de menino poeta, vendo “Alegria, Alegria”, “Domingo no parque”, “Luciana” e, emblematicamente, “Pra não dizer que não falei das flores”, participar de um festival de gente grande seria o máximo.
Não importa, segui degustando Toquinho e Vinícius, Jobim, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso, Gil, Zé Ramalho e muitos outros. Mergulhei na sonoridade rebelde do rock, inspirado pela revolução dos Beatles e dos Rolling Stones; pela guitarra de Clapton, Gilmour, Hendrix, Page e Santana; pela bateria do Keith Moon e do Phil Collins; pela voz do David Coverdale e do Roger Daltrey; pelo baixo do John Entwistle e do John Paul Jones; pelos teclados do Rick Wakeman e do Tony Banks; pela flauta do Ian Anderson; pelas letras do Pete Townshend e do Roger Waters. E o trompete do Miles Davis, o sax do Charlie Parker, o magic touch do Stanley Jordan, a gaita do Toots Thielemans? Melhor parar, pois a citação reverencial é gêmea siamesa da omissão injustificada.
Nenhum deles me impediu de apreciar os maravilhosos sambas do Cartola e do Nelson Cavaquinho, nem os populares do Monarco, Almir Guineto e Zeca Pagodinho. Agisse diferente e não me perdoaria a minha professora de português do Santo Inácio, Marília Barbosa, incentivadora das minhas redações e hoje uma das maiores pesquisadoras do mundo do samba. Portanto, diria o mestre Cegalla, o popular não precisa ser inimigo da regra culta da língua. Acabei estimulado por outro grande amigo a compor sambas bissextos, apenas nos carnavais de blocos de rua. Neles me realizei escutando muita gente cantando meus versos nos blocos da “Barata”, em Costazul/Rio das Ostras, e no “Nem muda nem sai de cima” da Tijuca.
Vejam só como é lúdica a vida do amante da música. Busquei tanto pela sonoridade até no quebrar de copos e pratos, que virei notas numa quase sexagenária trilha sonora. Musicalidade a cada dia da minha caminhada, em ritmos heterogêneos, sem xenofobia nem pedantismo, embalando minha história numa longa dança. As vozes, os arranjos, os solos e os acordes guiaram meus passos à margem dos problemas, esses sim, sem rima, sem prosa, sem tom. Eles só costumam atravessar o samba dos tristes e desafinados, aqueles que não têm sintonia com a melodia de sua existência.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
O mistério da realização
Muitos se questionam sobre o que fazem, por que fazem e há quanto tempo fazem. As rotinas por vezes são estressantes e não traduzem as aspirações pessoais e os sonhos de infância. Mesmo os jogadores de futebol e até os artistas, ramos de atividade que passam a impressão de lazer remunerado, nos surpreendem reclamando do desgaste após um longo período do exercício da profissão. E sobre outras profissões mais exaustivas e menos prazerosas, o que dizer?
Há pessoas muito volúveis, de temperamento bastante instável, apresentando evidências de inadequação mais precocemente do que as demais. São verdadeiros itinerantes, profissionais de muitos empregos, apenas porque a instabilidade faz parte de suas vidas. Nem bem se ajustam às características do novo local de trabalho e já cogitam a próxima mudança. Preferem a troca frequente, sem criação de raízes que dificultem uma saída futura, seja por laços de amizade ou por estreitamento da relação profissional.
Na ótica do trabalhador de perfil normal, além da rejeição à rotatividade, a visão é de absoluta incompreensão. Alguém bem empregado, com um ambiente saudável e com perspectivas de crescimento, não tem razão para pensar em mudar de empresa. O mais incrível, há os que pretendem mudar de ramo de atividade, não raro de maneira radical. A explicação para esse fenômeno está no início do processo, na origem dos fatos, na escolha da profissão.
Tropeçamos em profissionais desajustados, gente que optou errado ao definir a carreira a seguir e, por diversas razões, se manteve assim todo o tempo. Em geral, lhes falta coragem para sair da zona de conforto, nenhuma disposição para abrir mão de vantagens alcançadas ao longo da vida. Sobretudo os benefícios materiais, via de regra impossíveis numa outra alternativa. As demandas vão se agigantando, surgem novas responsabilidades, vem a família, os filhos e, quando menos se espera, a vida passou. Aquele desejo de menino, aquele sonho não realizado ficou para trás.
A necessidade é a mãe da invenção, dizem muitos, tentando justificar a união do útil ao agradável. A alegação é simplista, por considerarem incompatível a junção de projetos pessoais com a escalada social e o conceito de realização profissional. Há controvérsias, comprovadas em casos e casos de pessoas felizes com suas tarefas, independentemente do status alcançado. Isso passa por uma questão de foro íntimo, muito mais do que pela abordagem romântica de determinadas teses. Fazer o que gosta não garante necessariamente riqueza material, porém assegura uma vida sem remorsos. Nunca é tarde para o resgate de valores inegociáveis. Na hipótese de buscá-los no apagar das luzes, trata-se de decisão inadiável.
Não sabemos a extensão da estrada, quanto nos resta na direção, quando passaremos a caronas e onde será o ponto final. Exerça o seu direito de usufruir da felicidade oferecida pelo destino, distanciada dos apelos mercadológicos e dos pasteurizados conceitos de massificação dos gostos. Portanto, escreva, toque, cante, pinte, desenhe, fotografe, cozinhe, construa, plante, organize, produza, enfim, reaja aos estímulos aprisionados por seus interesses de consumo. Com certeza há algo que você faz muito melhor do que qualquer outra coisa, fundamentalmente pela injeção de alegria auto-aplicada nesses momentos. Dê asas à imaginação e deixe fluir a intuição em forma de dom. Impeça que apelidem de passado a convivência com uma enorme lacuna.
Há pessoas muito volúveis, de temperamento bastante instável, apresentando evidências de inadequação mais precocemente do que as demais. São verdadeiros itinerantes, profissionais de muitos empregos, apenas porque a instabilidade faz parte de suas vidas. Nem bem se ajustam às características do novo local de trabalho e já cogitam a próxima mudança. Preferem a troca frequente, sem criação de raízes que dificultem uma saída futura, seja por laços de amizade ou por estreitamento da relação profissional.
Na ótica do trabalhador de perfil normal, além da rejeição à rotatividade, a visão é de absoluta incompreensão. Alguém bem empregado, com um ambiente saudável e com perspectivas de crescimento, não tem razão para pensar em mudar de empresa. O mais incrível, há os que pretendem mudar de ramo de atividade, não raro de maneira radical. A explicação para esse fenômeno está no início do processo, na origem dos fatos, na escolha da profissão.
Tropeçamos em profissionais desajustados, gente que optou errado ao definir a carreira a seguir e, por diversas razões, se manteve assim todo o tempo. Em geral, lhes falta coragem para sair da zona de conforto, nenhuma disposição para abrir mão de vantagens alcançadas ao longo da vida. Sobretudo os benefícios materiais, via de regra impossíveis numa outra alternativa. As demandas vão se agigantando, surgem novas responsabilidades, vem a família, os filhos e, quando menos se espera, a vida passou. Aquele desejo de menino, aquele sonho não realizado ficou para trás.
A necessidade é a mãe da invenção, dizem muitos, tentando justificar a união do útil ao agradável. A alegação é simplista, por considerarem incompatível a junção de projetos pessoais com a escalada social e o conceito de realização profissional. Há controvérsias, comprovadas em casos e casos de pessoas felizes com suas tarefas, independentemente do status alcançado. Isso passa por uma questão de foro íntimo, muito mais do que pela abordagem romântica de determinadas teses. Fazer o que gosta não garante necessariamente riqueza material, porém assegura uma vida sem remorsos. Nunca é tarde para o resgate de valores inegociáveis. Na hipótese de buscá-los no apagar das luzes, trata-se de decisão inadiável.
Não sabemos a extensão da estrada, quanto nos resta na direção, quando passaremos a caronas e onde será o ponto final. Exerça o seu direito de usufruir da felicidade oferecida pelo destino, distanciada dos apelos mercadológicos e dos pasteurizados conceitos de massificação dos gostos. Portanto, escreva, toque, cante, pinte, desenhe, fotografe, cozinhe, construa, plante, organize, produza, enfim, reaja aos estímulos aprisionados por seus interesses de consumo. Com certeza há algo que você faz muito melhor do que qualquer outra coisa, fundamentalmente pela injeção de alegria auto-aplicada nesses momentos. Dê asas à imaginação e deixe fluir a intuição em forma de dom. Impeça que apelidem de passado a convivência com uma enorme lacuna.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
Na passarela da vida
Somos frágeis criaturas travestidas de destemidos, desfilando na passarela da vida. A exemplo dos modelos, encaramos as adversidades do cotidiano com uma disposição hercúlea, não poupando esforços no enfrentamento. Basta surgir algo efetivamente importante, uma dúvida ameaçadora de nossa existência e, pronto, o mundo desmorona. Assim ocorre com supostas doenças, quando em geral nos desesperamos antes mesmo da conclusão do diagnóstico.
É comum não destinarmos ao corpo a atenção devida, sobrecarregando a armadura que nos protege por toda a caminhada. A responsabilidade pesa quando as décadas começam a se acumular, cobrando o preço justo pelos descalabros cometidos. Abusamos da sorte ao comermos e bebermos as delícias oferecidas pela tentação mundana, sem sequer pensar no futuro. Nossa mentalidade sempre foi imprevidente e imediatista, valendo o sabor e o prazer de viver o momento. Não interessa se bem-vinda, a conta será paga um dia, com certeza.
Sem cerimônia, chega a hora em que a maneira desregrada de viver reaparece de repente, disfarçada de problema de saúde. Passado o susto, vem o temor pela extensão do mal, diante dos sintomas e das especulações que os mais informados costumam fazer. Uma súbita visão embaralhada, sem qualquer outro indício, leva a suposições extremas, angustiando o ameaçado. Mistério que uma tomografia desvenda, acalmando o assustado. Pronto, voltamos à irresponsabilidade do dia a dia até o próximo sobressalto. Absoluta falta de vergonha e total imprudência.
E vamos vivendo de impulsos, apostando na roleta da vida. Está mais para a russa do que para a viciada, aquela acionada pelo ímã escondido debaixo dos panos de outro cassino não menos implacável. Jogar todas as fichas no mesmo número evidencia uma atitude irrefletida, cujos riscos podem trazer prejuízos mais rápidos e maiores do que se imagina. Colocar nossos dias e meses amontoados numa pilha em cima de uma aposta pode ser um tiro pela culatra. Resta somente escolher a roleta.
A vida não é uma foto nem um álbum estático, mas um filme em que as cenas exigem o melhor desempenho do protagonista. A dinâmica desejada na interpretação do papel de longevo requer cuidados de longo prazo. Muitas vezes o mocinho tem diminuídas as páginas do seu script, não importando a qualidade de sua performance. Isso depende do Autor do roteiro, desde sempre acumulando as funções de Diretor.
Melhor não aguardar pelos sustos e optar pelo viver bem, de uma forma saudável, moderada. Portanto, a estrada pode ser longa e agradável se soubermos caminhar com inteligência. Nossa passagem por aqui poderia se traduzir através de metáfora da moda. Quando menos esperamos, as traças roem as peças da primavera/verão, nos obrigando a desfrutar mais da roupagem de outono/inverno. A mente veste o corpo, em qualquer circunstância, inclusive no momento de manter o equilíbrio na escolha do melhor figurino.
É comum não destinarmos ao corpo a atenção devida, sobrecarregando a armadura que nos protege por toda a caminhada. A responsabilidade pesa quando as décadas começam a se acumular, cobrando o preço justo pelos descalabros cometidos. Abusamos da sorte ao comermos e bebermos as delícias oferecidas pela tentação mundana, sem sequer pensar no futuro. Nossa mentalidade sempre foi imprevidente e imediatista, valendo o sabor e o prazer de viver o momento. Não interessa se bem-vinda, a conta será paga um dia, com certeza.
Sem cerimônia, chega a hora em que a maneira desregrada de viver reaparece de repente, disfarçada de problema de saúde. Passado o susto, vem o temor pela extensão do mal, diante dos sintomas e das especulações que os mais informados costumam fazer. Uma súbita visão embaralhada, sem qualquer outro indício, leva a suposições extremas, angustiando o ameaçado. Mistério que uma tomografia desvenda, acalmando o assustado. Pronto, voltamos à irresponsabilidade do dia a dia até o próximo sobressalto. Absoluta falta de vergonha e total imprudência.
E vamos vivendo de impulsos, apostando na roleta da vida. Está mais para a russa do que para a viciada, aquela acionada pelo ímã escondido debaixo dos panos de outro cassino não menos implacável. Jogar todas as fichas no mesmo número evidencia uma atitude irrefletida, cujos riscos podem trazer prejuízos mais rápidos e maiores do que se imagina. Colocar nossos dias e meses amontoados numa pilha em cima de uma aposta pode ser um tiro pela culatra. Resta somente escolher a roleta.
A vida não é uma foto nem um álbum estático, mas um filme em que as cenas exigem o melhor desempenho do protagonista. A dinâmica desejada na interpretação do papel de longevo requer cuidados de longo prazo. Muitas vezes o mocinho tem diminuídas as páginas do seu script, não importando a qualidade de sua performance. Isso depende do Autor do roteiro, desde sempre acumulando as funções de Diretor.
Melhor não aguardar pelos sustos e optar pelo viver bem, de uma forma saudável, moderada. Portanto, a estrada pode ser longa e agradável se soubermos caminhar com inteligência. Nossa passagem por aqui poderia se traduzir através de metáfora da moda. Quando menos esperamos, as traças roem as peças da primavera/verão, nos obrigando a desfrutar mais da roupagem de outono/inverno. A mente veste o corpo, em qualquer circunstância, inclusive no momento de manter o equilíbrio na escolha do melhor figurino.
domingo, 14 de agosto de 2011
Pais
Indescritível o momento do nascimento de um filho, nos fazendo sentir mais longevos, quem sabe perpétuos, numa conceituação mais abrangente. Tive essa transcendental sensação duas vezes e me recordo de todos os detalhes, dos mais simples aos mais complexos. O ressecamento desértico da garganta, a enxurrada oceânica de pensamentos, a força incendiária do amor, o poderoso sopro de vida. Os quatro elementos nos cercam, protegem e ameaçam, convulsionando os instantes de uma transformação definitiva. O rito de passagem nos eleva à condição de criadores. Nada mais será a mesma coisa.
Os filhos trazem um glossário de termos novos, explicações para definições imprecisas, traduções em qualquer idioma. Ensinam todo o tempo, bastando a primeira alegria, o primeiro choro, a primeira cólica, a primeira insônia, a primeira palavra, o primeiro passo, a primeira aula, a primeira prova, a primeira decepção, a primeira menstruação, o primeiro amor, as primeiras flores, o primeiro diploma, o primeiro emprego, a primeira felicidade, a primeira tristeza. Tudo é tão novo para eles, tão velho para nós, tão novo para nós, tão velho para eles, dependendo das circunstâncias, das perspectivas, da ótica observada.
A intensidade do amor paterno se revela em doses generosas, exageradas às vezes, parcimoniosas eventualmente, profiláticas sempre. Quando o planejamento falha, a reparação resolve, recupera e reconduz. Erre, erre, erre e erre, pouco importa, pois o aconchego ampara, abraça e acarinha. Inobstante a morfologia das palavras, amor e zelo, extremos do dicionário, se aproximam na ação. Buscamos enxergar por seus olhos, oferecemos corpo e alma de escudo, suportamos o peso da responsabilidade, incondicionalmente, até quando possível. Um dia eles nos surpreendem vivendo com maestria nosso papel.
Cada qual do seu modo, com arados diferentes, preparamos a terra e disponibilizamos as sementes ao mundo. Se o renovar das estações nos enrugou a casca e acinzentou nossas folhas, também multiplicou o germinar, proliferando nossos frutos e perpetuando a espécie. Tempo de quebrarmos os espelhos e olharmos à nossa volta. A frondosa árvore da vida pereniza a seiva de todos os sonhos. À sombra de sua ramagem descansaremos as raízes de tantos passados, de outros frutos cujas sementes vicejaram no replantio. Nesse terreno fértil da existência não há espaço para o cultivo da saudade, pois estaremos eternamente juntos. Nele, as folhas caídas adubam as que ainda vão nascer e se mesclam em novas cores e outras texturas, num moto contínuo de aprimoramento. Portanto, chegada a hora, podemos descansar em paz. Em pais.
Os filhos trazem um glossário de termos novos, explicações para definições imprecisas, traduções em qualquer idioma. Ensinam todo o tempo, bastando a primeira alegria, o primeiro choro, a primeira cólica, a primeira insônia, a primeira palavra, o primeiro passo, a primeira aula, a primeira prova, a primeira decepção, a primeira menstruação, o primeiro amor, as primeiras flores, o primeiro diploma, o primeiro emprego, a primeira felicidade, a primeira tristeza. Tudo é tão novo para eles, tão velho para nós, tão novo para nós, tão velho para eles, dependendo das circunstâncias, das perspectivas, da ótica observada.
A intensidade do amor paterno se revela em doses generosas, exageradas às vezes, parcimoniosas eventualmente, profiláticas sempre. Quando o planejamento falha, a reparação resolve, recupera e reconduz. Erre, erre, erre e erre, pouco importa, pois o aconchego ampara, abraça e acarinha. Inobstante a morfologia das palavras, amor e zelo, extremos do dicionário, se aproximam na ação. Buscamos enxergar por seus olhos, oferecemos corpo e alma de escudo, suportamos o peso da responsabilidade, incondicionalmente, até quando possível. Um dia eles nos surpreendem vivendo com maestria nosso papel.
Cada qual do seu modo, com arados diferentes, preparamos a terra e disponibilizamos as sementes ao mundo. Se o renovar das estações nos enrugou a casca e acinzentou nossas folhas, também multiplicou o germinar, proliferando nossos frutos e perpetuando a espécie. Tempo de quebrarmos os espelhos e olharmos à nossa volta. A frondosa árvore da vida pereniza a seiva de todos os sonhos. À sombra de sua ramagem descansaremos as raízes de tantos passados, de outros frutos cujas sementes vicejaram no replantio. Nesse terreno fértil da existência não há espaço para o cultivo da saudade, pois estaremos eternamente juntos. Nele, as folhas caídas adubam as que ainda vão nascer e se mesclam em novas cores e outras texturas, num moto contínuo de aprimoramento. Portanto, chegada a hora, podemos descansar em paz. Em pais.
sábado, 13 de agosto de 2011
Jessé
Numa viagem de quatro décadas ao passado encontro personagens interessantes na memória. Naquele meu velho Del Castilho, figuras marcantes se distinguiam dos demais. Alguns se tornariam pessoas famosas com o passar do tempo, porque não dizer, muito famosas. Hoje vou falar de uma delas, certamente reconhecido por quem ler esse texto, goste ou não do seu estilo.
Os adolescentes da minha época tinham o péssimo costume de se reafirmarem através do cigarro. Quase todos fumavam, embora o dinheiro fosse curto e não permitisse excessos dessa natureza. Em especial por ser um hábito cultivado às escondidas, o acendimento de um cigarro seguia um ritual e já exigia conceitos de economia. Quando todos se reuniam, era comum que a cada cigarro aceso houvesse candidatos à “vinte”, às vezes à “dez”. Era como chamávamos, respectivamente, vinte e dez por cento do cigarro.
Um dos integrantes do grupo era ágil nessas candidaturas, talvez porque jamais tivesse o que fumar. Era o Jessé, morador da “parte de baixo”, local situado do outro lado da avenida principal que cortava o bairro. Ele se acostumou a se juntar ao pessoal da “parte de cima”, onde eu me incluía. Transitava com desenvoltura em ambas as áreas, mas se identificava mais conosco. O Jessé só era chato com essa história de “me dá a vinte” e “me dá a dez”, de resto era gente fina. Gostava tanto de uma batucada que acabou conseguindo uma vaga de cambono de centro de umbanda, atraído pela percussão na tumbadora.
Ainda bem adolescente, exerceu a função de apontador no ponto de bicho gerenciado pelo Celsinho. Ou seja, começou cedo a buscar um rendimento para se manter e ajudar em casa. Não tinha a carteira assinada, nem garantias mínimas, mas o horário ajudava a conciliar com outras atividades, eventualmente com a escola. Assim o tempo passou e outras coisas aconteceram. Ele de repente deu uma sumida, ninguém sabia exatamente o porquê. Mudou-se para outro bairro, começou a frequentar as badaladas rodas de samba do bloco Cacique de Ramos. Lá a madrinha Beth Carvalho o acolheu, gravou o genial samba dele “Camarão que dorme a onda leva” e alavancou a carreira do maior fenômeno de vendas do mercado fonográfico do samba, sucesso de mídia e de público.
Alheio a esses fatos, em 1986 eu morava em São Paulo quando julguei reconhecê-lo na capa de um LP. O novo nome não me lembrava nada, porém a fisionomia me pareceu familiar. Logo descobri de quem se tratava. Apesar disso, ele mudou muito pouco de quando o conheci para cá. Continua simples e ligado às raízes. Entretanto, duas mudanças foram grandes: a conta bancária cresceu de forma exponencial e o nome artístico pelo qual há tempos ficou bastante conhecido. Afinal, quem não conhece o Zeca Pagodinho?
Os adolescentes da minha época tinham o péssimo costume de se reafirmarem através do cigarro. Quase todos fumavam, embora o dinheiro fosse curto e não permitisse excessos dessa natureza. Em especial por ser um hábito cultivado às escondidas, o acendimento de um cigarro seguia um ritual e já exigia conceitos de economia. Quando todos se reuniam, era comum que a cada cigarro aceso houvesse candidatos à “vinte”, às vezes à “dez”. Era como chamávamos, respectivamente, vinte e dez por cento do cigarro.
Um dos integrantes do grupo era ágil nessas candidaturas, talvez porque jamais tivesse o que fumar. Era o Jessé, morador da “parte de baixo”, local situado do outro lado da avenida principal que cortava o bairro. Ele se acostumou a se juntar ao pessoal da “parte de cima”, onde eu me incluía. Transitava com desenvoltura em ambas as áreas, mas se identificava mais conosco. O Jessé só era chato com essa história de “me dá a vinte” e “me dá a dez”, de resto era gente fina. Gostava tanto de uma batucada que acabou conseguindo uma vaga de cambono de centro de umbanda, atraído pela percussão na tumbadora.
Ainda bem adolescente, exerceu a função de apontador no ponto de bicho gerenciado pelo Celsinho. Ou seja, começou cedo a buscar um rendimento para se manter e ajudar em casa. Não tinha a carteira assinada, nem garantias mínimas, mas o horário ajudava a conciliar com outras atividades, eventualmente com a escola. Assim o tempo passou e outras coisas aconteceram. Ele de repente deu uma sumida, ninguém sabia exatamente o porquê. Mudou-se para outro bairro, começou a frequentar as badaladas rodas de samba do bloco Cacique de Ramos. Lá a madrinha Beth Carvalho o acolheu, gravou o genial samba dele “Camarão que dorme a onda leva” e alavancou a carreira do maior fenômeno de vendas do mercado fonográfico do samba, sucesso de mídia e de público.
Alheio a esses fatos, em 1986 eu morava em São Paulo quando julguei reconhecê-lo na capa de um LP. O novo nome não me lembrava nada, porém a fisionomia me pareceu familiar. Logo descobri de quem se tratava. Apesar disso, ele mudou muito pouco de quando o conheci para cá. Continua simples e ligado às raízes. Entretanto, duas mudanças foram grandes: a conta bancária cresceu de forma exponencial e o nome artístico pelo qual há tempos ficou bastante conhecido. Afinal, quem não conhece o Zeca Pagodinho?
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
Pretérito Perfeito
Podem diser que sou purista ou romântico. Estou me sentindo cada vez mais uma peça de antiquário. Sou do tempo em que jogos da seleção brasileira de futebol eram um compromisso obrigatório de qualquer torcedor. Quando ainda não se transmitia com tanta freqüência pela TV, procurávamos um rádio onde fosse possível acompanhar os lances da partida. A camisa amarela era sinônimo de uma idolatria saudável e vitoriosa de todos os amantes do futebol.
Hoje as coisas mudaram muito e a CBF transformou o futebol brasileiro num balcão de negócios pelo mundo, prostituindo a marca de tal forma que tem gente que às vezes nem sabe que há jogo disputado pelos brasucas. Aliás, nem sei se podemos chamá-los assim, diante da pouca identificação com o país, com o povo e com a simbologia do futebol tupiniquim. Os expatriados do esporte nacional nem de longe lembram os meus ídolos do passado, mesmo aqueles em ação naquela época nas ligas estrangeiras.
O melhor exemplo da globalização contaminada do violento esporte bretão se encontra nos jogadores nascidos no Brasil que optam pela nacionalidade de outro país, onde defendem outros selecionados. As tênues regras da FIFA ajudaram a ridicularizar as raízes dos atletas. Hoje estão descaracterizadas as escalações mundo afora, seja pelo perfil da raça, pelo nome ou pelo idioma falado pelos atletas convocados. Na trajetória das câmeras pelos jogadores perfilados no momento da execução do hino, podemos facilmente reconhecer quem é quem.
Após a bola rolar, agora o time com a amarelinha parece o dos adversários de antigamente, com jogadores de cintura dura, aqueles aos quais o Nelson Rodrigues atribuía o apelido “saúde de vaca premiada”. A arte requintada nas obras primas com a bola, o finesse no trato rebuscado com a redonda, ficaram na memória dos mais velhos, inclusive eu. Nos dias de hoje, não raro nos flagramos aplaudindo mais os que vestem outras camisas, bem como exaltamos as revelações mundiais nascidas aqui e exportadas ou cujos pais jogaram na seleção brasileira ou em clubes do Brasil.
Trata-se de um incômodo fenômeno, palavra que preferíamos usar no apelido de um dos últimos dignos representantes da casta de craques nacionais, o Ronaldo. Com ele vivemos do passado, às vezes do passado presente, caso do Ronaldinho Gaúcho, eleito o melhor do mundo mais de uma vez e hoje jogando por aqui. O resumo dessa ópera bufa se viu no Alemanha 3 x 2 Brasil de ontem. Eu não assisti, tal qual milhões de brasileiros. Mas o prestígio do futebol brasileiro assistiu de cabeça baixa e envergonhado.
A camisa “amarelinha” está se acostumando à derrota na mesma velocidade em que muda o figurino e se assemelha a outras por exigência do fabricante multinacional. Enquanto isso, no selecionado alemão há turcos, poloneses e um brasileiro, o paulista Cacau, cuja nacionalidade é indiscutível. Também soube hoje que estreou pela Espanha um menino muito bom de bola chamado Thiago, filho do Mazinho, ex- integrante do time canarinho tetracampeão em 1994. O Thiago foi o 35º jogador estrangeiro convocado para uma seleção espanhola. Estranho, muito estranho, esse mundo globalizado, no qual a FIFA e a CBF são tão ricas e o futebol tão pobre.
A camisa da seleção canarinho que tanto nos alegrou virou artigo retrô. O futebol praticado pelos nossos compatriotas, idem. Tudo está muito mudado. Nós também. Em homenagem à perfeição dos áureos tempos, já escolhi o nome do antiquário onde vou morar: Pretérito Perfeito.
Hoje as coisas mudaram muito e a CBF transformou o futebol brasileiro num balcão de negócios pelo mundo, prostituindo a marca de tal forma que tem gente que às vezes nem sabe que há jogo disputado pelos brasucas. Aliás, nem sei se podemos chamá-los assim, diante da pouca identificação com o país, com o povo e com a simbologia do futebol tupiniquim. Os expatriados do esporte nacional nem de longe lembram os meus ídolos do passado, mesmo aqueles em ação naquela época nas ligas estrangeiras.
O melhor exemplo da globalização contaminada do violento esporte bretão se encontra nos jogadores nascidos no Brasil que optam pela nacionalidade de outro país, onde defendem outros selecionados. As tênues regras da FIFA ajudaram a ridicularizar as raízes dos atletas. Hoje estão descaracterizadas as escalações mundo afora, seja pelo perfil da raça, pelo nome ou pelo idioma falado pelos atletas convocados. Na trajetória das câmeras pelos jogadores perfilados no momento da execução do hino, podemos facilmente reconhecer quem é quem.
Após a bola rolar, agora o time com a amarelinha parece o dos adversários de antigamente, com jogadores de cintura dura, aqueles aos quais o Nelson Rodrigues atribuía o apelido “saúde de vaca premiada”. A arte requintada nas obras primas com a bola, o finesse no trato rebuscado com a redonda, ficaram na memória dos mais velhos, inclusive eu. Nos dias de hoje, não raro nos flagramos aplaudindo mais os que vestem outras camisas, bem como exaltamos as revelações mundiais nascidas aqui e exportadas ou cujos pais jogaram na seleção brasileira ou em clubes do Brasil.
Trata-se de um incômodo fenômeno, palavra que preferíamos usar no apelido de um dos últimos dignos representantes da casta de craques nacionais, o Ronaldo. Com ele vivemos do passado, às vezes do passado presente, caso do Ronaldinho Gaúcho, eleito o melhor do mundo mais de uma vez e hoje jogando por aqui. O resumo dessa ópera bufa se viu no Alemanha 3 x 2 Brasil de ontem. Eu não assisti, tal qual milhões de brasileiros. Mas o prestígio do futebol brasileiro assistiu de cabeça baixa e envergonhado.
A camisa “amarelinha” está se acostumando à derrota na mesma velocidade em que muda o figurino e se assemelha a outras por exigência do fabricante multinacional. Enquanto isso, no selecionado alemão há turcos, poloneses e um brasileiro, o paulista Cacau, cuja nacionalidade é indiscutível. Também soube hoje que estreou pela Espanha um menino muito bom de bola chamado Thiago, filho do Mazinho, ex- integrante do time canarinho tetracampeão em 1994. O Thiago foi o 35º jogador estrangeiro convocado para uma seleção espanhola. Estranho, muito estranho, esse mundo globalizado, no qual a FIFA e a CBF são tão ricas e o futebol tão pobre.
A camisa da seleção canarinho que tanto nos alegrou virou artigo retrô. O futebol praticado pelos nossos compatriotas, idem. Tudo está muito mudado. Nós também. Em homenagem à perfeição dos áureos tempos, já escolhi o nome do antiquário onde vou morar: Pretérito Perfeito.
terça-feira, 9 de agosto de 2011
As gravatas de rapina
Crise no mundo globalizado. A economia mais uma vez sacode o planeta e as pessoas estão meio que espantadas, muitas preocupadas, outras buscando informações e outras tantas insensíveis. É difícil distribuir a população brasileira nesses extratos, porque há os que acompanham até a inflação na China e os que sequer se interessam pelo noticiário sombrio dos números. Enquanto alguns acordam menos ricos e de olho no comportamento das bolsas asiáticas, milhões se limitam aos sacrifícios rotineiros do transporte ruim para o trabalho.
Não importa o que pensem, todos de alguma forma estão ou estarão envolvidos nesse episódio em algum momento. Não se restringe a questão a um possível retorno a outra faixa de milhares atuais ocupantes da classe média. Espera-se uma condução equilibrada e atenta do governo em relação aos impactos desse tsunami nas finanças mundiais. Esses fenômenos monetários nos agridem mais do que os da natureza, dos quais estamos imunes a maior parte do tempo. Exceto, claro, quando as autoridades tratam com descaso as ocupações irregulares de encostas e terrenos sob risco, ocasionando tragédias desnecessárias.
Do ponto de vista cidadão, sempre que esses tremores nos surpreendem vemo-nos obrigados a repensar o planejamento pessoal. Apertamos o cinto pensando nas possíveis conseqüências dos fatos anunciados e passamos a um regime mais austero, se ainda há espaço para isso. Aqueles que vivem no fio da navalha, por assim dizer, nada podem fazer senão se manter acima da linha da água, lutando as batalhas diárias nas escaramuças da sobrevivência. Mesmo com as providências tomadas, até as divinas, a maioria fica ao sabor da borrasca. Na viagem no mar aberto da economia mundial, os ocupantes de embarcações mais sofisticadas estão mais protegidos, ainda que percam algum conforto. Os que fazem os destroços de bóia sofrem muito mais, muitas vezes sem sentir mudança, acostumados com o sol inclemente e as ondas agressivas.
Chamam a atenção os insensíveis, os inatingíveis que manipulam com o dinheiro alheio, sem correr riscos maiores, com exceção de ganhar menos numa ou outra operação. Ao contrário, muitos se aproveitam desses desequilíbrios para enriquecerem ainda mais, às custas dos incautos e dos infelizes. São os transformadores da crise em oportunidade, não necessariamente os empreendedores do exemplar ideograma chinês, mas os abutres que se alimentam da desgraça de terceiros. Basta um olhar mais detalhista, uma visão mais perspicaz para identificarmos esses facínoras, bastante conhecidos. Seus sorrisos satisfeitos contrastam com a apreensão geral, a não ser quando interpretam o papel de circunspectos apenas para jogar para a torcida.
Portanto, meus caros, independentemente do segmento em que estejam, olho vivo! Há alguém desejando lhe enganar, esperando só a ocasião mais oportuna para dar o bote. Não se iludam com o trajar requintado, nem com o discurso envolvente, nem com os eventos grandiosos. Uma gravata de rapina se reconhece com facilidade. Aliás, presentes em vários setores, muitas são bem antigas.
Não importa o que pensem, todos de alguma forma estão ou estarão envolvidos nesse episódio em algum momento. Não se restringe a questão a um possível retorno a outra faixa de milhares atuais ocupantes da classe média. Espera-se uma condução equilibrada e atenta do governo em relação aos impactos desse tsunami nas finanças mundiais. Esses fenômenos monetários nos agridem mais do que os da natureza, dos quais estamos imunes a maior parte do tempo. Exceto, claro, quando as autoridades tratam com descaso as ocupações irregulares de encostas e terrenos sob risco, ocasionando tragédias desnecessárias.
Do ponto de vista cidadão, sempre que esses tremores nos surpreendem vemo-nos obrigados a repensar o planejamento pessoal. Apertamos o cinto pensando nas possíveis conseqüências dos fatos anunciados e passamos a um regime mais austero, se ainda há espaço para isso. Aqueles que vivem no fio da navalha, por assim dizer, nada podem fazer senão se manter acima da linha da água, lutando as batalhas diárias nas escaramuças da sobrevivência. Mesmo com as providências tomadas, até as divinas, a maioria fica ao sabor da borrasca. Na viagem no mar aberto da economia mundial, os ocupantes de embarcações mais sofisticadas estão mais protegidos, ainda que percam algum conforto. Os que fazem os destroços de bóia sofrem muito mais, muitas vezes sem sentir mudança, acostumados com o sol inclemente e as ondas agressivas.
Chamam a atenção os insensíveis, os inatingíveis que manipulam com o dinheiro alheio, sem correr riscos maiores, com exceção de ganhar menos numa ou outra operação. Ao contrário, muitos se aproveitam desses desequilíbrios para enriquecerem ainda mais, às custas dos incautos e dos infelizes. São os transformadores da crise em oportunidade, não necessariamente os empreendedores do exemplar ideograma chinês, mas os abutres que se alimentam da desgraça de terceiros. Basta um olhar mais detalhista, uma visão mais perspicaz para identificarmos esses facínoras, bastante conhecidos. Seus sorrisos satisfeitos contrastam com a apreensão geral, a não ser quando interpretam o papel de circunspectos apenas para jogar para a torcida.
Portanto, meus caros, independentemente do segmento em que estejam, olho vivo! Há alguém desejando lhe enganar, esperando só a ocasião mais oportuna para dar o bote. Não se iludam com o trajar requintado, nem com o discurso envolvente, nem com os eventos grandiosos. Uma gravata de rapina se reconhece com facilidade. Aliás, presentes em vários setores, muitas são bem antigas.
domingo, 7 de agosto de 2011
Curiosidades
É costume se ouvir expressões que aparentemente não fazem muito sentido. A história traz surpresas reveladas pela sabedoria popular e hoje vamos falar um pouco delas. Quem já andou pela Zona Oeste do Rio de Janeiro, no acesso a Guaratiba deve ter se deparado com indicações à Ilha de Guaratiba. E todos se espantam em chegar ao local e não conseguirem encontrar ilha alguma. Por que então se chama a região de Ilha de Guaratiba? Ocorre que quando aquela área foi demarcada, o dono de toda a região era um inglês de nome William. Os moradores locais não conseguiam pronunciar William e passaram a chamá-lo de “ilha”, denominação que se estendeu aos domínios do britânico e perdura até hoje. Assim, a Ilha de Guaratiba na verdade é o William de Guaratiba.
Outra definição sem lógica é a criança ter “bicho carpinteiro”. Basta que o pequeno seja mais agitado que alguém diz que ele está com “bicho carpinteiro”. Mas que tipo de animal teria essa virtude de trabalhar com madeira? Um inseto da família dos cupins ou um roedor da linhagem do castor? Que ramo da zoologia responderia a dúvida? O que viria a ser isso? Na verdade a ideia é a de se traduzir a inquietação infantil pelo fato dela possuir “bicho pelo corpo inteiro”. Com o tempo as palavras se fundiram e o bicho pelo corpo inteiro virou bicho carpinteiro.
E quem ainda não ouviu que o menino é tão parecido com o pai que é o dito cujo “cuspido e escarrado”. Trata-se de algo escatológico, de interpretação ilógica, cujo sentido precisou de uma pesquisa mais aprofundada. Após algumas verificações se chegou à conclusão que o linguajar popular alterara bastante a frase original. A semelhança entre duas pessoas usava a perfeição do padrão das antigas esculturas italianas. Assim, quando alguém se parecia muito com outro se traduzia a identidade como “esculpido em Carrara”, numa referência ao mármore famoso daquela cidade da Itália. O tempo passou e o “esculpido em Carrara” sofreu a metamorfose para “cuspido e escarrado”.
E a inesquecível música de Gilberto Gil, “Aquele abraço”, que se refere a Realengo, bairro do Rio de Janeiro, saberia explicar a origem do nome desse subúrbio carioca? Como surgiu uma palavra tão diferente? A explicação é muito simples e vem do período do Império. Naquela época o Rio era dividido em Engenhos cuja denominação era a mais variada possível. Engenho da Rainha, Engenho de Dentro, Engenho Novo, Engenho Velho, Real Engenho. Quando os bondes tomaram conta da cidade, a descrição do bairro no letreiro do transporte precisou ser abreviada. Reduziu-se Real Engenho a Real Engº. O povo começou a ler tudo junto e o resultado foi Realengo. Pronto, foi o suficiente para o bairro mudar de nome.
Há muitas outras curiosidades do mesmo nível. Mas o espaço do blog não permite discorrer sobre todos.
Outra definição sem lógica é a criança ter “bicho carpinteiro”. Basta que o pequeno seja mais agitado que alguém diz que ele está com “bicho carpinteiro”. Mas que tipo de animal teria essa virtude de trabalhar com madeira? Um inseto da família dos cupins ou um roedor da linhagem do castor? Que ramo da zoologia responderia a dúvida? O que viria a ser isso? Na verdade a ideia é a de se traduzir a inquietação infantil pelo fato dela possuir “bicho pelo corpo inteiro”. Com o tempo as palavras se fundiram e o bicho pelo corpo inteiro virou bicho carpinteiro.
E quem ainda não ouviu que o menino é tão parecido com o pai que é o dito cujo “cuspido e escarrado”. Trata-se de algo escatológico, de interpretação ilógica, cujo sentido precisou de uma pesquisa mais aprofundada. Após algumas verificações se chegou à conclusão que o linguajar popular alterara bastante a frase original. A semelhança entre duas pessoas usava a perfeição do padrão das antigas esculturas italianas. Assim, quando alguém se parecia muito com outro se traduzia a identidade como “esculpido em Carrara”, numa referência ao mármore famoso daquela cidade da Itália. O tempo passou e o “esculpido em Carrara” sofreu a metamorfose para “cuspido e escarrado”.
E a inesquecível música de Gilberto Gil, “Aquele abraço”, que se refere a Realengo, bairro do Rio de Janeiro, saberia explicar a origem do nome desse subúrbio carioca? Como surgiu uma palavra tão diferente? A explicação é muito simples e vem do período do Império. Naquela época o Rio era dividido em Engenhos cuja denominação era a mais variada possível. Engenho da Rainha, Engenho de Dentro, Engenho Novo, Engenho Velho, Real Engenho. Quando os bondes tomaram conta da cidade, a descrição do bairro no letreiro do transporte precisou ser abreviada. Reduziu-se Real Engenho a Real Engº. O povo começou a ler tudo junto e o resultado foi Realengo. Pronto, foi o suficiente para o bairro mudar de nome.
Há muitas outras curiosidades do mesmo nível. Mas o espaço do blog não permite discorrer sobre todos.
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
Amigos
Amigo, refúgio para as dores do corpo e do espírito, em especial essas últimas. Não me queixo da sorte, pois fiz grandes e muitos amigos ao longo da vida. Transitei em ambientes os mais diversos, por origem, residência, formação escolar e dever de ofício. Em todos eles me relacionei com a heterogeneidade do ser humano, misterioso cadinho de nossas dessemelhanças. A natureza humana consegue nos fazer ao mesmo tempo tão iguais e tão diferentes, criando fatores que nos aproximam e nos distanciam dos demais, umas épocas mais outras menos.
Tenho muito orgulho das amizades sólidas construídas em minha caminhada por lugares realmente díspares, desde o local humilde onde nasci, passando pelo seleto grupo das escolas que frequentei, mais tarde encontrando a miscigenada reunião de parceiros da idade pós-adulta e finalmente nos corredores empresariais. Conheci e me aproximei de nobilíssimas pessoas no decorrer da existência. Com elas aprendi demais, numa permuta de experiências muito ricas, amalgamando a minha essência.
Um texto limitado por caracteres e pela paciência de quem lê não faria justiça à legião de parceiros e de parceiras que dividiram, dividem e dividirão suas histórias comigo. Obviamente, com eles desfrutei da melhor maneira dos bons momentos, neles me apoiei e soube apoiar nas incontornáveis agruras. Juntos vencemos pequenos e enormes desafios, mesmo quando a ausência de um ou outro desfalcou a união de esforços. Na impossibilidade da presença física, nos completamos mental e espiritualmente, através do aprendizado, da lembrança, do mútuo saber adquirido.
O verdadeiro amigo configura uma escolha de muitos e complexos quesitos, mas requer poucas e singelas explicações. Um deles uma vez me disse, da forma mais incontestável e convincente possível, ser capaz de me dar um de seus braços se eu necessitasse. E ele não falava no sentido figurado, mas tratava da disponibilização de parte do seu corpo. Jamais me esquecerei disso, a mais consistente demonstração de um laço de fraternidade não consanguínea que tive. Generosamente aquinhoado, recebi muitas outras traduções de identificação dessas importantes almas próximas de nós, algumas eu diria gêmeas até.
Há uns quinze dias recebi ligação telefônica de um deles. Ele e sua mulher meus companheiros de longa data, da mais tenra infância. Eles nos convidavam para conhecer a sua nova casa, confirmando uma sinalização feita anteriormente e já ajustada com outras pessoas. Por razões alheias à minha vontade, bastante justificáveis, minha esposa não estava em condições de atender ao convite. Diante da impossibilidade, me desculpei pela ausência forçada. Ao que ele respondeu com o adiamento da reunião, sob a alegação de que não consideraria completo o seu círculo sem que estivéssemos presentes. Pode parecer uma atitude inesperada ou sensata, dependendo do ponto de vista. Entenda-se como for, tocou-nos bastante.
Hoje lá estaremos, minha mulher e eu, felizes e recompensados por uma atitude tão simbólica quanto os beijos, os abraços demorados e os apertos de mãos que autenticam mais um reencontro de destinos. A sinceridade de um gesto simples esconde o poder da modificação de ânimo de quem o recebe. Somos muito mais importantes do que os problemas que nos afligem, mais poderosos do que as eventualidades, mais curativos do que a droga de maior eficácia. Apenas ainda não temos a noção precisa dessa força, oculta em neurônios subutilizados. Enquanto a ciência não desvenda o mistério das inexploradas conexões cerebrais, somos conectados pelos amigos, de mesmo sangue ou não. A genética nos faz parentes. A vivência nos faz amigos.
Tenho muito orgulho das amizades sólidas construídas em minha caminhada por lugares realmente díspares, desde o local humilde onde nasci, passando pelo seleto grupo das escolas que frequentei, mais tarde encontrando a miscigenada reunião de parceiros da idade pós-adulta e finalmente nos corredores empresariais. Conheci e me aproximei de nobilíssimas pessoas no decorrer da existência. Com elas aprendi demais, numa permuta de experiências muito ricas, amalgamando a minha essência.
Um texto limitado por caracteres e pela paciência de quem lê não faria justiça à legião de parceiros e de parceiras que dividiram, dividem e dividirão suas histórias comigo. Obviamente, com eles desfrutei da melhor maneira dos bons momentos, neles me apoiei e soube apoiar nas incontornáveis agruras. Juntos vencemos pequenos e enormes desafios, mesmo quando a ausência de um ou outro desfalcou a união de esforços. Na impossibilidade da presença física, nos completamos mental e espiritualmente, através do aprendizado, da lembrança, do mútuo saber adquirido.
O verdadeiro amigo configura uma escolha de muitos e complexos quesitos, mas requer poucas e singelas explicações. Um deles uma vez me disse, da forma mais incontestável e convincente possível, ser capaz de me dar um de seus braços se eu necessitasse. E ele não falava no sentido figurado, mas tratava da disponibilização de parte do seu corpo. Jamais me esquecerei disso, a mais consistente demonstração de um laço de fraternidade não consanguínea que tive. Generosamente aquinhoado, recebi muitas outras traduções de identificação dessas importantes almas próximas de nós, algumas eu diria gêmeas até.
Há uns quinze dias recebi ligação telefônica de um deles. Ele e sua mulher meus companheiros de longa data, da mais tenra infância. Eles nos convidavam para conhecer a sua nova casa, confirmando uma sinalização feita anteriormente e já ajustada com outras pessoas. Por razões alheias à minha vontade, bastante justificáveis, minha esposa não estava em condições de atender ao convite. Diante da impossibilidade, me desculpei pela ausência forçada. Ao que ele respondeu com o adiamento da reunião, sob a alegação de que não consideraria completo o seu círculo sem que estivéssemos presentes. Pode parecer uma atitude inesperada ou sensata, dependendo do ponto de vista. Entenda-se como for, tocou-nos bastante.
Hoje lá estaremos, minha mulher e eu, felizes e recompensados por uma atitude tão simbólica quanto os beijos, os abraços demorados e os apertos de mãos que autenticam mais um reencontro de destinos. A sinceridade de um gesto simples esconde o poder da modificação de ânimo de quem o recebe. Somos muito mais importantes do que os problemas que nos afligem, mais poderosos do que as eventualidades, mais curativos do que a droga de maior eficácia. Apenas ainda não temos a noção precisa dessa força, oculta em neurônios subutilizados. Enquanto a ciência não desvenda o mistério das inexploradas conexões cerebrais, somos conectados pelos amigos, de mesmo sangue ou não. A genética nos faz parentes. A vivência nos faz amigos.
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Marcas de batom no espelho do banheiro
A história é tão interessante que resolvi reproduzi-la aqui no blog:
Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: meninas de 12 anos que usavam batom, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom.
O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte lá estavam as mesmas marcas...
Um dia o diretor juntou as meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas de batom que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora.
No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram...
No outro dia, o diretor juntou as meninas e o zelador no banheiro, pedindo ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho. O zelador, imediatamente e com luvas, pegou um pano, mergulhou-o no vaso sanitário e em seguida o esfregou no espelho.
Nunca mais apareceram marcas no espelho!
Moral da história:
→ Há professores e há educadores...
→ Comunicar é sempre um desafio!
→ Às vezes, precisamos usar métodos diferentes para alcançar certos resultados.
Por que?
→ Porque a bondade que nunca repreende não é bondade: é passividade.
→ Porque a paciência que nunca se esgota não é paciência: é subserviência.
→ Porque a serenidade que nunca se desmancha não é serenidade: é indiferença.
→ Porque a tolerância que nunca replica não é tolerância: é imbecilidade.
"O saber se aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende com a vida"
Numa escola pública estava ocorrendo uma situação inusitada: meninas de 12 anos que usavam batom, todos os dias beijavam o espelho para remover o excesso de batom.
O diretor andava bastante aborrecido, porque o zelador tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao final do dia. Mas, como sempre, na tarde seguinte lá estavam as mesmas marcas...
Um dia o diretor juntou as meninas no banheiro e explicou pacientemente que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas de batom que elas faziam. Fez uma palestra de uma hora.
No dia seguinte as marcas de batom no banheiro reapareceram...
No outro dia, o diretor juntou as meninas e o zelador no banheiro, pedindo ao zelador para demonstrar a dificuldade do trabalho. O zelador, imediatamente e com luvas, pegou um pano, mergulhou-o no vaso sanitário e em seguida o esfregou no espelho.
Nunca mais apareceram marcas no espelho!
Moral da história:
→ Há professores e há educadores...
→ Comunicar é sempre um desafio!
→ Às vezes, precisamos usar métodos diferentes para alcançar certos resultados.
Por que?
→ Porque a bondade que nunca repreende não é bondade: é passividade.
→ Porque a paciência que nunca se esgota não é paciência: é subserviência.
→ Porque a serenidade que nunca se desmancha não é serenidade: é indiferença.
→ Porque a tolerância que nunca replica não é tolerância: é imbecilidade.
"O saber se aprende com os mestres e os livros. A sabedoria se aprende com a vida"
quarta-feira, 3 de agosto de 2011
O contribuinte-capacho
Cada vez mais me sinto usurpado como contribuinte. Insisto no assunto na esperança de conseguir outros insatisfeitos e/ou indignados com os quais cerrarei fileiras um dia. Talvez consigamos mudar alguma coisa nas próximas décadas e eu ainda veja, antes de morrer, uma situação melhor do que vivi até hoje. Meu assunto hoje é o Detran/RJ.
No início de maio precisei agendar uma vistoria para um veículo, com o objetivo de uma transferência de propriedade e de estado de origem, Minas Gerais. A data mais cedo que me ofereceram foi 03/08/2011, ou seja, três meses de espera. Ainda que inconformado com o prazo, fui orientado sobre os documentos necessários e os respectivos DUDAs, documentos de arrecadação, a serem pagos, num total de quase R$ 340,00. A informação sobre os documentos foi diferente entre a consulta que fiz e a passada a outra pessoa, que ligara a meu pedido. Assim, resolvi ir até ao edifício-sede do órgão. Lá, fui mal atendido por uma pessoa que tentou se desvencilhar da pergunta sugerindo que eu tirasse esse tipo de dúvida no Posto de Vistoria. Evidentemente, em razão de me acautelar procedendo dessa forma, expliquei que gostaria de chegar ao Posto com a certeza dos documentos corretos. Um pouco a contragosto, a pessoa me prestou os esclarecimentos.
Hoje, cheguei ao Posto de Vistoria às 7:25, me antecipando ao horário agendado das 8:00. Numa rua estreita, já havia uma fila com dois veículos tumultuando o trânsito e preferi encostar meu carro rente ao meio-fio. Fui até o portão do Posto e perguntei sobre a fila. O segurança sugeriu que eu entrasse na mesma e eu nem perdi meu tempo de contestá-lo, pois um ônibus naquele momento quase não conseguiu passar pelo local em razão da semi-obstrução da via. Esperei pela abertura ao público, o que ocorreu às 8:00 em ponto. Ao entrarmos me deparei com um local bastante amplo, o que me fez questionar a mim mesmo por que os veículos não poderiam aguardar numa fila lá dentro, se já havia quem pudesse organizá-la.
Enfim, um primeiro atendimento me indicou o local onde a vistoria seria levada a efeito. Lá chegando não havia ninguém. Após aguardar por vinte minutos, um funcionário se apresentou para me atender. Executadas as verificações e testes no meu carro, eram 9:10 e o próximo passo era me dirigir à Cabine 3. Na tal cabine já aguardavam umas oito pessoas. Voltei e indaguei quanto tempo estaria previsto para a conferência, a liberação do novo documento e das placas. Obtive como resposta que em torno de 20 minutos. Acreditei, em especial após descobrir que o informante era nada mais nada menos que o responsável por aquela unidade. Meu carro foi emplacado e só saí daquela tortura às 11:50, assim mesmo depois de implorar ajuda e de me mostrar impaciente, então recebendo uma atenção melhor.
Por que pagamos impostos altíssimos, além deles uma série de taxas exorbitantes, e somos tratados como capachos? É razoável ser submetido a tal constrangimento, passando quase cinco horas para obter um serviço? Em plena ditadura da informática não seria possível maior agilidade no atendimento? Ou vai aparecer alguém alegando já ter sido pior? Devemos relaxar e aproveitar, como de praxe?
No início de maio precisei agendar uma vistoria para um veículo, com o objetivo de uma transferência de propriedade e de estado de origem, Minas Gerais. A data mais cedo que me ofereceram foi 03/08/2011, ou seja, três meses de espera. Ainda que inconformado com o prazo, fui orientado sobre os documentos necessários e os respectivos DUDAs, documentos de arrecadação, a serem pagos, num total de quase R$ 340,00. A informação sobre os documentos foi diferente entre a consulta que fiz e a passada a outra pessoa, que ligara a meu pedido. Assim, resolvi ir até ao edifício-sede do órgão. Lá, fui mal atendido por uma pessoa que tentou se desvencilhar da pergunta sugerindo que eu tirasse esse tipo de dúvida no Posto de Vistoria. Evidentemente, em razão de me acautelar procedendo dessa forma, expliquei que gostaria de chegar ao Posto com a certeza dos documentos corretos. Um pouco a contragosto, a pessoa me prestou os esclarecimentos.
Hoje, cheguei ao Posto de Vistoria às 7:25, me antecipando ao horário agendado das 8:00. Numa rua estreita, já havia uma fila com dois veículos tumultuando o trânsito e preferi encostar meu carro rente ao meio-fio. Fui até o portão do Posto e perguntei sobre a fila. O segurança sugeriu que eu entrasse na mesma e eu nem perdi meu tempo de contestá-lo, pois um ônibus naquele momento quase não conseguiu passar pelo local em razão da semi-obstrução da via. Esperei pela abertura ao público, o que ocorreu às 8:00 em ponto. Ao entrarmos me deparei com um local bastante amplo, o que me fez questionar a mim mesmo por que os veículos não poderiam aguardar numa fila lá dentro, se já havia quem pudesse organizá-la.
Enfim, um primeiro atendimento me indicou o local onde a vistoria seria levada a efeito. Lá chegando não havia ninguém. Após aguardar por vinte minutos, um funcionário se apresentou para me atender. Executadas as verificações e testes no meu carro, eram 9:10 e o próximo passo era me dirigir à Cabine 3. Na tal cabine já aguardavam umas oito pessoas. Voltei e indaguei quanto tempo estaria previsto para a conferência, a liberação do novo documento e das placas. Obtive como resposta que em torno de 20 minutos. Acreditei, em especial após descobrir que o informante era nada mais nada menos que o responsável por aquela unidade. Meu carro foi emplacado e só saí daquela tortura às 11:50, assim mesmo depois de implorar ajuda e de me mostrar impaciente, então recebendo uma atenção melhor.
Por que pagamos impostos altíssimos, além deles uma série de taxas exorbitantes, e somos tratados como capachos? É razoável ser submetido a tal constrangimento, passando quase cinco horas para obter um serviço? Em plena ditadura da informática não seria possível maior agilidade no atendimento? Ou vai aparecer alguém alegando já ter sido pior? Devemos relaxar e aproveitar, como de praxe?
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Os festeiros
Quanto custaria uma creche, uma escola, equipamentos de exames de imagem para todos os hospitais municipais e estaduais que reclamam não possuí-los, novos carros para a segurança pública, um lote de casas populares para os desabrigados? Não tenho esses números, mas imagino que os responsáveis pelos respectivos setores da administração pública devem conhecê-los. Ou deveriam dispor deles em seus equipamentos de última geração custeados pelo governo, em seus gabinetes refrigerados pelo governo, com os salários pagos pelo governo. Ao governo subsidiamos nós, os contribuintes, intrépidos e fagueiros responsáveis por pagar as contas, colaboradores desde a primeira hora, quando são registrados nas moderníssimas urnas eletrônicas os desejados votos que elegem nossos mandatários.
Rapidamente caem no esquecimento os tempos da ribalta eleitoral, quando os candidatos procuram desempenhar com o máximo de seu talento teatral o papel de bons moços, prometendo mundos e fundos, assumindo compromissos sociais. É o momento do beijo nas crianças carentes e nas mulheres grávidas, do abraço nos idosos doentes, do aperto de mão em cada trabalhador que paga impostos e elege um sonho. Os interesses são maiores, os acordos foram feitos e a conta precisa ser paga. Ninguém se elege sem apoio de empreiteiros, empresários e tantas outras grandes personalidades, algumas até mundiais. Esse negócio de contribuinte e de eleitor sempre será apenas protocolar, servindo exclusivamente para legitimar o mandato. Assim que funciona.
Então, a grande badalação do último fim de semana aqui no Rio foi o show espetacular da FIFA custeado pelos impostos cariocas, uma vez que integralmente pago pela Prefeitura da Cidade e pelo Governo do Estado, não sei em que proporções. Ainda bem que o preço módico justificou o investimento. Pelo nível das atrações e pelo vulto do evento, até que R$ 30 milhões ficaram quase de graça. Não sei o porquê da execração pelos arautos da moral e da ética, os mesmos que torcem os narizes para os passeios do governador em jatinhos de parceiros da administração. Esses críticos são comadres que não têm o que fazer e passam o dia procurando pequenos e insignificantes detalhes, alvejando políticos de primeira linha cujo objeto maior e eterno é o cidadão. Não havia alternativa mais interessante para aplicar R$ 30 milhões, estejam certos os cariocas. Essa dinheirama, gasta com uma festa que nada tinha a ver com o Rio e deveria ter se realizado no auditório da FIFA em Zurique, prova a isenção dos nossos governantes.
Pois bem, o mundo viu os nossos músicos e craques da bola, os convidados e telespectadores se fascinaram com o sorriso e a simpatia dos apresentadores e com a parafernália tecnológica no palco. As autoridades presentes se deleitaram com momentos sublimes, um pequeno e modesto cartão de visitas dos rapapés que se realizarão por aqui até 2014. Em troca desses salamaleques foi necessário tão somente fechar o aeroporto Santos Dumont, estabelecer o caos no trânsito da Zona Sul do Rio de Janeiro e prejudicar a vida de alguns milhares de moradores da cidade. Claro e de menor importância, sem falar em torrarem R$ 30 milhões do nosso suado dinheirinho. Afinal, além do dinheiro não ser deles, para que perder tempo gastando essa pequena cifra com creches, escolas, hospitais, segurança e casas populares? O povo que se exploda, já dizia Justo Veríssimo, o hilário e fictício político personificado pelo Chico Anísio. Sorte nossa que políticos desse naipe no Brasil encontramos exclusivamente no humorismo.
Rapidamente caem no esquecimento os tempos da ribalta eleitoral, quando os candidatos procuram desempenhar com o máximo de seu talento teatral o papel de bons moços, prometendo mundos e fundos, assumindo compromissos sociais. É o momento do beijo nas crianças carentes e nas mulheres grávidas, do abraço nos idosos doentes, do aperto de mão em cada trabalhador que paga impostos e elege um sonho. Os interesses são maiores, os acordos foram feitos e a conta precisa ser paga. Ninguém se elege sem apoio de empreiteiros, empresários e tantas outras grandes personalidades, algumas até mundiais. Esse negócio de contribuinte e de eleitor sempre será apenas protocolar, servindo exclusivamente para legitimar o mandato. Assim que funciona.
Então, a grande badalação do último fim de semana aqui no Rio foi o show espetacular da FIFA custeado pelos impostos cariocas, uma vez que integralmente pago pela Prefeitura da Cidade e pelo Governo do Estado, não sei em que proporções. Ainda bem que o preço módico justificou o investimento. Pelo nível das atrações e pelo vulto do evento, até que R$ 30 milhões ficaram quase de graça. Não sei o porquê da execração pelos arautos da moral e da ética, os mesmos que torcem os narizes para os passeios do governador em jatinhos de parceiros da administração. Esses críticos são comadres que não têm o que fazer e passam o dia procurando pequenos e insignificantes detalhes, alvejando políticos de primeira linha cujo objeto maior e eterno é o cidadão. Não havia alternativa mais interessante para aplicar R$ 30 milhões, estejam certos os cariocas. Essa dinheirama, gasta com uma festa que nada tinha a ver com o Rio e deveria ter se realizado no auditório da FIFA em Zurique, prova a isenção dos nossos governantes.
Pois bem, o mundo viu os nossos músicos e craques da bola, os convidados e telespectadores se fascinaram com o sorriso e a simpatia dos apresentadores e com a parafernália tecnológica no palco. As autoridades presentes se deleitaram com momentos sublimes, um pequeno e modesto cartão de visitas dos rapapés que se realizarão por aqui até 2014. Em troca desses salamaleques foi necessário tão somente fechar o aeroporto Santos Dumont, estabelecer o caos no trânsito da Zona Sul do Rio de Janeiro e prejudicar a vida de alguns milhares de moradores da cidade. Claro e de menor importância, sem falar em torrarem R$ 30 milhões do nosso suado dinheirinho. Afinal, além do dinheiro não ser deles, para que perder tempo gastando essa pequena cifra com creches, escolas, hospitais, segurança e casas populares? O povo que se exploda, já dizia Justo Veríssimo, o hilário e fictício político personificado pelo Chico Anísio. Sorte nossa que políticos desse naipe no Brasil encontramos exclusivamente no humorismo.
Assinar:
Postagens (Atom)